domingo, 19 de fevereiro de 2012

MINHA BOLSA DE CRIANÇA

Outro dia, num destes almoços de família fiquei observando minha sobrinha. Ela, no vigor dos seus 2 anos, calçada nos sapatos de salto da minha irmã, segurando uma bolsa quase maior do que ela e com um moderníssimo celular, andava tropeçando pela casa e dizendo que estava falando com o pai, um papo que ninguém, além dela, entendia.

A cena parecia engraçada, e quem estava por perto curtia com boas gargalhadas, mas eu tive uma sensação de terror e saudades. Um momento entre minha vida e aquela bolsa cambaleante levada por uma criança capaz cruzar o passado e o futuro.

Pensei num futuro que parece cada dia mais próximo, não pelo tempo, mas pelas crianças estereotipadas de adultos, mas ao mesmo tempo sem responsabilidades. Cada vez mais cedo as crianças se vestem e portam como adultos, mas em compensação os adultos cada dia menos se mostram responsáveis com as obrigações da idade.

Foi um temor passageiro, porque num piscar de olhos vieram algumas lembranças saudosistas rasgando aquele pensamento. Como teria sido minha bolsa de criança, será que eu também tinha começado a andar de salto tão cedo assim, será que desfilei algumas vezes perante a família me fazendo de uma grande executiva, uma pessoa que demonstra seu sucesso pela bolsa que carrega?!

Esperei aquela cena se desdobrar com grande interesse se em algum momento aquela menininha abriria a bolsa, o que a interessaria lá dentro ou qual dos brinquedos que ela guardaria; isto poderia significar uma luz no mundo dos adultos, mas nada disto aconteceu, ela se limitou a desfilar com o objeto como se tivesse imitando a mãe e sem jamais imaginar o que representa ter uma bolsa. No fundo no fundo ela sabia que aquela não era a bolsa de suas brincadeiras.

Em mim, ficou o desejo de ter uma bolsa como a de uma criança, sem contas para pagar, sem boletos tão desejosos pelo fim, sem peso de responsabilidades, sem contracheque grevista, sem objetivos frustrados, escondidos nos bolsos. Enfim, uma bolsa pronta a embalar o sonho infantil da vida adulta, a mesma que eu, por um minuto, tive vontade de transportar e voltar para a época das fraldas, em que na bolsa só tinha brinquedos.

Não é que eu queira fugir da vida que levo, é que realmente o sonho infantil é lindo, sem atropelos, meio termo ou contratempos, é que realmente muitas vezes desejamos coisas sem saber o que têm guardado em seus bolsos, nos vendemos ao glamour das historias de fadas.

Então, depois de alguns minutos curtindo o real e o irreal da cena, levantei –me, bati uma foto da personagem futu-regressiva encenada pela minha sobrinha, dei uma risadinha como se falasse sozinha, peguei a chave do carro, a bolsa com o celular e me entreguei à vida de adulta.

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