quinta-feira, 15 de março de 2012

AULA DE CARÁTER

Quando a gente acha que já ouviu de tudo, nesta vida vem algum fato e nos surpreende. Eu estava no trabalho logo após o feriado do carnaval e duas colegas começaram a conversar sobre o que tinham feito neste período, quando de repente, uma disse que não tinha saído de casa porque ela tinha muitas atividades para fazer referentes ao seu trabalho na igreja e das suas aulas de caráter.

Aquilo entrou nos meus ouvidos de forma meio hilária, duvidosa e ao mesmo tempo curiosa, então para não errar nos pensamentos perguntei a ela se se referia a caráter da pessoa, se era no sentido de índole referente as pessoas, algumas com bons comportamentos e outras com má condutas, se era em relação a postura socialmente aceita, ao que ela afirmou que era sim.

Ela disse que isto se fazia necessário porque algumas pessoas tem caráter ruim e outras são bom caráter. Disse também que o professor é muito bom, que ele tem boa formação, claro que não se referiam a formação acadêmica, pelo que deram a entender o professor tem curso universitário, mas as colegas se referiam a outro tipo de formação, seja ela religiosa ou qualquer outra que eu desconheça.

Enquanto elas conversavam eu mergulhava num mar de indagações pessoais, sociais e porque não dizer, cômicas. Eram pensamentos como os do mundo de Bob (desenho animado que passava na minha infância), fiquei imaginando como seria esta aula sobre a índole humana, se realmente era capaz de ensinar para alguém como ter boa conduta no meio em que está inserido. Mais que isto, seria capaz de modificar os comportamentos como o de uma pessoa com seus 35 anos e sua personalidade teoricamente já formada a ter boa índole, será que os alunos depois de frequentar estas aulas realmente mudariam suas atitudes perante os outros?!

Não pude me furtar à dúvida sobre a minha aprovação ou reprovação nessa disciplina, como também ao pensamento de como se sentiria alguém que fosse reprovado nessa matéria. Qual a seria a punição para ele? Será que tinha recuperação?! Isto porque de alguma forma tinha que se ter uma avaliação, mais que isso, só de saber que você teria que ir a essa aula, já era uma pré avaliação. Por que até onde entendi, nem todos precisavam cursar a tal aula de caráter, então acho que alguém, por algum motivo, determinava quem deveria e quem não deveria ir a esta aula.

Eu até acredito que não somos tão honestos, ninguém é totalmente honesto, mas daí ir para uma aula de caráter, parece meio estranho. Tenho para mim que todos nós, em estado normal de consciência, sabemos o que é errado e o que é certo. Então, não é que não tenha caráter, é que as pessoas não usam os princípios inerentes ao convívio em sociedade que aprendem desde cedo, na família, na escola, na igreja ou em outro meio que esteja inserido.

Quando acordei um pouco do mundo ilusório da didática comportamental do caráter, percebi que a conversa ainda continuava entre minhas colegas de trabalho. Agora quem falava era a outra colega, que dizia conhecer a fama do mencionado professor. Ela contava que inclusive afirmavam que algumas pessoas eram mau caráter porque eram descendentes de Caim.

Nesse momento não me contive, soltei umas gargalhadas que chamaram atenção, mas não quis participar do assunto, dada a minha ignorância bíblica. Claro que aí coube um último pensamento: como este povo conseguia provar quem era descendente de Caim, e mais ainda, provar que a genética persistiu a tantas gerações a ponto de ainda permanecer em um individuo tornando-o uma pessoa de mau caráter. Para este indivíduo, nem a aula de caráter vai adiantar muito por que o problema é genético, daí, acredito que seja um mal quase que sem cura.

Toda esta história era muito complexa para minha cabeça, então deixei a sala onde estávamos, imaginando se eu devia me matricular numa destas aulas de caráter ou se apenas deveria ficar mais antenado nas coisas para não errar. Mas de qualquer forma sai feliz, por que elas não me convidaram para a “bendita” aula de caráter.

2 comentários:

  1. Como eu lhe disse: a pontuação é algo importantíssimo num texto. Na minha observação como estudante de literatura, parece mais um conto do que uma crônica, mas reafirmo, a ideia é muito boa, pena que não apoiou algumas sugestões minhas. bj

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  2. Como essa aula fez efeito em vc heim , nem precisava participar mesmo , visto que as indagações das colegas já fizeram por si só o papel de fazer você pensar sobre o que vem a ser "caráter"... Fico só imaginando o que tem de errado trabalhar esse tema, pois este como outros fazem parte dos temas transversais como respeito, dignidade, amor, sinceridade... O que vi aí foi na verdade pré julgamentos em relação ao trabalho da colega em questão... Acredito que você minha cara também trabalha o tema caráter em seu currículo oculto...Quando dá limites ao seu educando, quando percebe que ele está fazendo algo que não vai de encontro com as regras escolares..Pense!

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